A mais bela que se pode ver, em minha opinião

 

II. A mais bela que se pode ver, em minha opinião
De la plus belle qu'on puisse voir, à mon avis
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Berenguer de Palou (c. 1160-1209)
Trad. e notas: Ricardo da Costa

 

 

 

 

 

I

De la gensor qu’om vey’, al mieu semblan,

A mais bela que se pode ver, em minha opinião,

01

On nueg e jorn velh e pens e cossir,

noite e dia a vejo, pensativo e ansioso.

 

Mi vuelh lunhar, si·l cor mi vol seguir,

Meu desejo quer dela se distanciar, caso meu coração deseje me seguir.

 

Ab tal acort que mais no·l torn denan,

Minha decisão é nunca mais tornar a vê-la,

 

Quar longamen m’a tengut deziron

porque por muito tempo ela manteve meus desejos

05

Ab belh semblan, mas tan dur me respon

com seu belo semblante e que tão duramente me disse

 

Qu’anc jorn no·m volc precx ni demans sofrir.

nunca querer sentir meus rogos e pedidos.

 

 

 

 

 

 

 

II

Ja mais miei huelh ab los sieus no·s veyran,

Jamais meus olhos encontrarão os seus

 

S’a lieys no plai que·m man a se venir;

a menos que deseje que eu vá até ti.

 

Qu’on plus la vey, plus m’auci de dezir,

Quanto mais a vejo, mais aumenta meu desejo,

10

Et on mais l’am, mais y fatz de mon dan;

e quanto mais a amo, mais aumenta meu sofrimento.

 

E·l non vezer me languis e·m cofon;

Se não a vejo, definho e me consumo,

 

E pus no·m plai ren als que si’al mon,

e não há mais nada que exista no mundo que me agrade.

 

Ab pauc no·m lays de vezer e d’auzir.

Quase renuncio a viver e a ouvir.

 

 

 

 

 

 

 

III

Ai! belha dona, ab belh cors benestan,

Ah, bela senhora, de belo e gracioso corpo,

15

De bel semblan e de gent aculhir,

de belo semblante e de agradável acolhimento,

 

A penas sai de vos mo mielhs chauzir,

mal consigo decidir o que é melhor:

 

Si·us vey o no, o si·m torn, o si m’an:

vê-la ou não? Retornar a ti ou partir?

 

Non ai saber ni sen que mi aon;

Nem minha sabedoria, nem meus sentidos sabem responder.

 

Tan suy intratz en vostr’amor prion,

Tão profundamente estou em vosso amor

20

Qu’ieu non conosc per on m’en puesca essir.

que não sei como posso sair.

 

 

 

 

 

 

 

IV

Pero, dona, si·us vis cor ni talan

Por isso, senhora, se perceber em vosso íntimo o desejo

 

Que·m denhessetz l’amor qu’ie·us ai grazir,

de agradecer por meu amor,

 

So es us mals don no volgra guerir;

será um mal que não desejarei ser curado.

 

Mas, pus no·us plai, al ver Dieu vos coman;

Mas caso isso não vos agrade, ao verdadeiro Deus vos recomendo.

25

De vos mi tuelh, e non ab cor volon,

Afastar-me-ei de vós, mas não pela vontade de meu coração.

 

Quar res ses vos no·m pot far jauzion:

Porque nada, a não ser vós, pode me dar alegria.

 

Vejatz si·m puesc ab gaug de vos partir!

Vejais se com gozo posso de vós partir!

 

 

 

 

 

 

 

 

V

Quar conoissetz que no·us am ab engan,

Uma vez que sabeis que a amo sem engano,

 

E quar vos suy plus fis qu’ieu no·us aus dir

que sou mais fiel do que posso expressar,

30

E quar ab vos m'ave viur’o murir,

e que devo viver ou morrer convosco,

 

Vos afranquis merces vas me d’aitan,

que o agradecimento vos faça consentir

 

Dona, que·l cor que·m falh e·m fug e’m fon

senhora, pois meu coração falha, me escapa e se vai.

 

Me sostenguatz, quar ieu no sai vas on

Por isso, me apoie, pois não sei para onde devo procurar

 

Mi serc secors, se vos mi faitz falhir.

ajuda se sentir vossa falta.

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VI

Senher Bernart, no·ns part ren viu del mon,

Senhor Bernardo, nada no mundo pode nos separar,2

 

Mas la belha que·m destrenh e·m cofon

mas a bela que me tortura e me consome

 

Tem que·m fassa per mort de vos partir.

temo que me separe de vós com a morte.3

 

 

 

Notas

  • 1. Tradução feita a partir do texto original editado por JEANROY, Alfred; AUBRY, Pierre. “Huit chansons de Bérenger de Palazol”. InAnuari de l'Institut d'Estudis Catalans 2 (1908), p. 520-540. InternetCorpus des TroubadoursInstitut d’Estudis Catalans (letra).
  • 2. Nessa última estrofe, o poeta se dirige ao seu senhor para precavê-lo de seu melancólico estado emocional.
  • 3. Berenguer de Palou foi da Catalunha, do condado de Rossilhão. Foi um cavaleiro pobre, mas galante, instruído e bom nas armas. Trovou canções bem, e cantava para Ermesenda de Avinhão, esposa de Arnau de Avinhão, filho de Maria de Peralada, DE RIQUER, Martín. Vidas y amores de los trovadores y sus damas. Barcelona: Acantilado, 2004, p. 213 (159. BERENGUER DE PALOU).