A arquitetura sagrada e a Natureza nas Cantigas de Santa María
Ricardo da COSTA
Bárbara DANTAS
Trabalho apresentado no
IV Colóquio Internacional de Filosofia Medieval e
I Congresso Internacional de Artes e Filosofia: Arte, Crítica e Mística,
evento organizado pelos mestrados de Artes e de Filosofia da UFES,
e ocorrido na UFES entre os dias 20 e 23 de outubro de 2014.In: SANTOS, Bento Silva (org.). Mirabilia 20 (2015/1).
Arte, Crítica e Mística – Art, Criticism and Mystique.
Barcelona: Institut d’Estudis Medievals, UAB, Jan-Jun 2015, p. 44-65.
Resumo: A Idade Média foi o tempo da inserção do homem no meio natural. Mais que isso: foi, sobretudo, o tempo da conquista do espaço, dos grandes arroteamentos, das construções arquitetônicas (por vezes em meio à Natureza), das expansões à custa do meio ambiente. Os movimentos monásticos foram os impulsionadores desse avanço. Nesse sentido, os monges foram, por excelência, os desbravadores, os, dominadores, os domesticadores da Natureza, tanto sujeitos quanto objetos a induzir este processo de compreensão, de civilização. A própria Teologia assim o permitia (“Toda a natureza [...] se amansa e foi domada pela natureza humana”, Tg 3, 7). A Civilização Ocidental foi filha desse processo, dessa relação, dessa simbiose, muitas vezes intempestiva, entre a Cultura e a Natureza, a Civilização e a Barbárie, o cru e o cozido. A proposta desse trabalho é analisar a iconografia das iluminuras de três cantigas e de um louvor presentes nas Cantigas de Santa María, obra atribuída a Afonso, o Sábio. Nossa metodologia consistiu em delimitar tematicamente a presença da natureza naquelas quatro iluminuras, quando então fixamos os seguintes topos artísticos: 1) a Natureza sagrada (Louvor 10), 2) a Natureza suplicante (Cantiga 93), 3) a Natureza salvadora (Cantiga 7) e 4) a Natureza expectadora (Cantiga 103). Na ordem, da Natureza que cerca e adorna a Virgem àquela que presencia a passagem do tempo, em uma paradoxal dualidade entre o tempo eterno da Natureza e o tempo fugaz e inconstante da Arte. Entrementes, a Natureza que suplica isola o leproso em retiro, e, por fim, a Natureza salvadora é aquela que envolve, com seu manto paradisíaco, os que pedem a intercessão da Virgem.
Palavras-chave: Cantigas de Santa María – Natureza – Arte Medieval – Iluminura.
Abstract: The Middle Ages was the time of insertion of man in Natural environment. More than that: it was, mainly, the time of the conquest of space, the large land clearance, the architectural constructions (sometimes in the middle of Nature), the expansions at the expense of the environment. The monastic movements were the drivers of this increase. In this sense, the monks were, par excellence, the pathfinders, the lords, the domesticators of Nature, both subjects as objects to induce this process of understanding, civilization. Theology itself so allowed (“For every sort of beast and bird and every living thing on earth and in the sea has been controlled by man and is under his authority”, Jas 3, 7). The Western civilization was the daughter of this process, of this relationship, of this symbiosis, often unintended, between Nature and Culture, Civilization and Barbarism, raw and cooked. The purpose of this study is to analyze the iconography of the illuminations of three songs and one praise present in the Cantigas de Santa María, a work attributed to Alphonse the Wise. Our methodology consisted of thematically define the presence of Nature in those four illuminated, so when we fix the following artistic tops: 1) The Sacred Nature (Cantiga 10), 2) The Supplicant Nature (Cantiga 93), 3) The Saving Nature (Cantiga 7) and 4) The Spectator Nature (Cantiga 103). In order, from Nature that surrounds and adorns the Virgin to Nature which witnesses the passage of time, in a paradoxical duality between the eternal time of Nature and the fleeting and fickle weather of Art. Meanwhile, the Nature who pleads isolates the leper in his retreat, and, ultimately, the saving Nature is one that involves with his heavenly robe who ask the intercession of the Virgin.
Keywords: Cantigas de Santa María – Nature – Medieval Art – Enluminure.