A experiência religiosa e mística de Ramon Llull

A Infinidade e a Eternidade divinas no Livro da Contemplação (c.1274)

Ricardo da COSTA

In: Scintilla - Revista de Filosofia e Mística Medieval.
Curitiba: Faculdade de Filosofia de São Boaventura (FFSB),
vol. 3, n. 1, janeiro/junho 2006, p. 107-133
(ISSN 1806-6526).

Explicit do manuscrito do Livro da contemplação, datado de 08 de julho de 1280 e copiado poucos anos depois da redação da obra por Ramon Llull.

Contemplar é o ato do pensamento que pensa em Deus.
Contemplar é falar com Deus de suas razões e de seus atos.
Provérbios de Ramon (1296)1

Os estudiosos reconhecem que a Idade Média apresenta muitos problemas de compreensão para o homem atual. A mística é um deles. Um dos maiores filósofos brasileiros, Henrique Cláudio de Lima Vaz, afirmou com propriedade que a filosofia moderna se mostrou incapaz de oferecer um pressuposto antropológico adequado à compreensão do fenômeno místico em sua gênese, provavelmente por se tratar de uma tentativa de comunicação com o inefável, de expressão do inexprimível. Mesmo a experiência do Ser de Heidegger, segundo Lima Vaz, é uma “experiência mística desfigurada”.2

Portanto, previno de antemão que tratarei de um tema que, em sua essência, me escapa. Devido a isso, a única possibilidade compreensiva que ele me oferece é a fruição estética, da emoção do autor, das palavras utilizadas para representar sua experiência. No entanto, apesar dessa dificuldade hermenêutica, creio poder exprimir aos meus contemporâneos algo da mente e do coração do autor que escolhi para tecer algumas considerações: o filósofo Ramon Llull (1232-1316).

Para isso, me referirei à primeira grande obra do autor, o Livro da contemplação em Deus, texto escrito originalmente em árabe por volta de 1274 e depois transcrito para o catalão em 1280 (há ainda uma versão latina, feita a partir de diferentes manuscritos catalães).3 Selecionei algumas passagens do Livro Primeiro que tratam da infinidade e da eternidade de Deus. Mas antes, foi preciso fazer uma breve contextualização histórica e biográfica de nosso autor, para então abordar as meditações lulianas de Deus.

I. Os primeiros quarenta anos (1232-1272): formação e conversão

Ramon Llull nasceu por volta de 1232 em Palma de Maiorca, ilha recém-conquistada por Jaime I (1213-1276).4 A expansão de Aragão prosseguiu durante sua infância, e entre os anos 1238-1245 Jaime I conquistou o reino de Valencia.5 Nesse período o império almôada cambaleava6, e os pequenos principados da Ocitânia começaram a ser anexados à coroa francesa, que, por sua vez, era apoiada pela Igreja7, interessada em extirpar a heresia cátara.8 Tudo isso ante a conformidade tácita de Jaime I, que não desejava uma guerra contra a França, pois havia sido pressionado pelo papa Honório III (1216-1227) a não intervir no Languedoc.9

Essa mudança tática de Jaime I em direção ao sul da Península fazia parte de uma nova orientação da política “internacional” catalã: a coroa abandonou suas pretensões na Provença e no Languedoc a partir da derrota das forças de Catalunha-Aragão na famosa batalha de Muret (1213).10 Essa derrota causou profunda impressão em Jaime I. Por isso, a coroa de Aragão abandonou seu interesse na Europa transpirenaica (que correspondia então a todo o Languedoc moderno, a metade da Gasconha, parte do Delfinado e a costa mediterrânea até Niza). Conseqüentemente, todo esse mundo cultural catalão passou para as mãos da coroa francesa, restando para os catalães somente Montpellier, cidade natal de Jaime I.11

O pai de Llull, também chamado Ramon Llull, participou na conquista da ilha de Maiorca, recebendo por isso terras como recompensa.12 Sua família já foi descrita tanto como nobres barceloneses enriquecidos pela conquista13, como burgueses ricos.14 Seja como for, por volta de 1232, ano de nascimento do filósofo, a família Llull tinha cerca de 159 hectares na ilha.15

A expansão aragonesa em direção ao sul fez com que uma considerável população muçulmana e judia fosse em pouco tempo absorvida pela coroa de Aragão. Calcula-se que os não cristãos constituíam uma quarta parte do total da população, isto é, cerca de 250.000 pessoas em um total de 900.000.16 Mas esse avanço militar aragonês não prosseguiu porque seus vizinhos (França e Castela) atravessavam um período de apogeu demográfico. Por isso, sua expansão se deu nos mares do Mediterrâneo, através de um intenso comércio com o norte da África (até o Egito), e também mediante a conquista da Sicília (1282), Sardenha (1323) e o sul da Itália (século XV).17

Esse expansionismo comercial catalão foi acompanhado pela formação de uma consciência de identidade cultural, por um sentimento do cumprimento de uma missão divina e pelo importante fato de que a própria língua catalã se “libertava” da influência cultural occitânia.18 Por todos esses motivos, por volta de 1300 a língua “internacional” falada no Mediterrâneo ocidental era o catalão, tanto no comércio quanto na diplomacia.19

Por sua vez, a ilha de Maiorca possuía características culturais peculiares e que imprimiram um tom universal à obra de Ramon Llull. Existiam ali grupos de imigrantes de diversas partes da Europa20, muçulmanos (cerca de 40% do total da população21) e judeus (utilizados pela coroa como embaixadores no Magreb, apesar de uma lei de Jaime I de 1228 proibir aos judeus ocuparem cargos superiores aos dos cristãos22).

Até meados da década de 1280 – quando uma onda anti-semita invadiu a ilha – Maiorca, devido a essa pluralidade de procedências, respirou um ar social mais lascivo e um pouco mais tolerante.23 A maioria da população, predominantemente burguesa (no sentido medieval de “residente do burgo”), havia imprimido um tom de “osmose estamental”, isto é, brindava com amplas possibilidades de ascensão social através do trabalho no comércio.24 O porto de Maiorca, estrategicamente localizado, era um centro de rotas marítimas que se entrecruzavam. Da Europa, comerciantes de Montpellier, de Gênova e de Pisa faziam escala ali e logo passavam a Minorca.25

Do Magreb os navegantes provinham de cinco cidades, entre Bugia e Oran. Além disso, os maiorquinos praticavam a navegação de cabotagem ao largo de toda a costa do Magreb, no canal da Sardenha e na Sicília, com escala em Túnis.26

Esse cosmopolitismo da sociedade de Maiorca proporcionou a Ramon Llull uma visão privilegiada das culturas judia e muçulmana, tornando-o um dos escritores e filósofos medievais melhor preparados para abordar o tema do diálogo inter-religioso, assunto em voga nos círculos intelectuais de então.27 Esse ambiente cultural possuía, naturalmente, uma grande preocupação religiosa, tanto na conversão dos infiéis quanto na unificação do cristianismo.28

Esses dois aspectos culturais foram fundamentais na visão de mundo de Llull. Devemos levar em conta também que a expansão aragonesa teve como conseqüência cultural a formação de uma identidade catalã. Daí o surgimento dos primeiros escritos em língua vernácula, como as Crônicas (especialmente o Livro dos feitos – Llibre dels feyts – de Jaime I de Aragão29) e as obras de Llull, fato que converte nosso personagem em um dos fundadores da língua catalã. Esta grande região da fronteira medieval e cristã, Maiorca e Catalunha, foi o mundo no qual Ramon Llull viveu, pelo menos na primeira metade de sua longuíssima vida (para os padrões medievais).

Em Maiorca, Llull recebeu uma educação cavaleiresca e cortesã, pois formou parte da corte de Jaime I e mais tarde como senescal de seu filho Jaime II.30 O filósofo nos apresenta essa primeira metade de sua vida como dissoluta e mundana, pois escrevia vãs canções e se dedicava a outras coisas lascivas desse mundo.31 Em seu Livro da contemplação, Ramon nos proporciona um retrato desse período de sua vida:

Ah, Senhor meu e Deus meu! Sou aquele que me vangloriava por ter traído e enganado muitos amigos meus, aos quais disse muitas mentiras, falsidades e cometi muitas injúrias. E tudo isso fazia porque não sabia nem cogitava Vossa verdade, nem a virtude e nobreza que existe em Vossa verdadeira verdade.32

Como quis, Senhor, a ajuda dos anjos, das Escrituras dos profetas, e a admoestação dos religiosos, estou agora em uma boa vida; mas antes, até que os anjos me ajudassem e os religiosos me predicassem, eu permaneci (no pecado), pois me tornara o pior homem e o maior pecador de toda essa cidade e de todas as demais existentes.33

Como eu, Senhor, injuriei meus vizinhos, meus parentes e meus amigos, tendo inveja de seus bens e de suas mulheres, aquelas injúrias, Senhor, não eram outra coisa senão as injúrias de minha alma, que se desordenava de ser digna de possuir a glória celestial.34

Todas essas opiniões negativas a respeito de sua vida antes de sua conversão fizeram com que Ramon Llull dedicasse somente algumas linhas a seus primeiros trinta anos em sua Vida coetânia. Mas sabemos que por volta de 1257, com cerca de vinte e cinco anos de idade, Llull tinha relações com a corte e estava muito vinculado ao príncipe Jaime, e que nesse mesmo ano ele se casou com Blanca Picany, com a qual teve dois filhos, Domingo e Madalena.

Apesar dessas circunstâncias, ele mantinha sua vida cortesã. Mas quanto tinha cerca de trinta anos, por volta de 1263, ele compunha uma canção em língua vulgar para uma mulher a quem amava com um amor feiticeiro.35 Foi então que teve uma visão do Cristo crucificado. Posteriormente teve mais quatro visões.36 Mais tarde, no poema Desconsolo (1295), Ramon faz referencia a essas visões:

Quando cresci e senti do mundo a vaidade,
entrei em pecado e comecei a fazer maldade,
esquecendo Deus glorioso e seguindo a carnalidade.
Mas satisfez a Jesus Cristo, por Sua grande piedade,
apresentar-se a mim cinco vezes crucificado, por bondade,
para que me enamorasse e O relembrasse com saudade,
tão fortemente que tratasse d’Ele quando pregasse a unidade
por todo o mundo, e que fosse dita a verdade
de Sua Encarnação e de Sua Trindade,
pelas quais fui inspirado em tão grande vontade,
que mais nada amasse, e O honrasse com dignidade.
Naquele momento, comecei a servi-Lo com sagacidade.37

Ramon Llull interpretou essas cinco visões de Cristo como um desígnio de Deus: ele deveria abandonar sua vida fútil e dedicar-se ao serviço de Cristo.38 O tema do martírio, tão caro aos religiosos medievais39, passou a formar parte de seus objetivos, além da conversão dos muçulmanos que, por seu grande número, cercavam os cristãos por todos os lados.40 O século XIII é o tempo da perplexidade para o cristianismo: conhecedores que eram minoria no mundo, a primeira atitude de muitos cristãos foi sair pelo mundo e divulgar a palavra de Deus. Por esse motivo, surgiram as ordens mendicantes, e a atitude apologética de Ramon Llull expressa muito bem esse sentimento de angústia e perplexidade coletiva que se transformou em ação, em um otimismo sem par, na certeza de poder converter todo o mundo. Por esse motivo, o século XIII foi definido como “o século do otimismo”.41

O segundo objetivo que a “mente lúgubre”42 de Llull atinou foi escrever o “melhor livro do mundo contra os erros dos infiéis”43 que, a princípio, foi o Livro da contemplação, obra que contém o núcleo de todo o seu pensamento.

Finalmente, seu terceiro objetivo foi recorrer ao papa, aos reis e aos príncipes cristãos para incitá-los a construírem mosteiros onde se ensinassem os idiomas dos sarracenos e dos outros infiéis, para assim formar pessoas indicadas para serem enviadas aos sarracenos e manifestar-lhes a pia verdade da fé católica, um objetivo já proposto anteriormente pelos dominicanos.44

É possível que esses três objetivos tenham sido amadurecidos durante um período maior de reflexão, como pensa Miquel Batllori.45 Os historiadores sempre colocam em dúvida as sucintas palavras de certas passagens da Vida.46 O fato é que só depois de escutar o sermão de um bispo sobre a vida de São Francisco47, que dizia como o santo havia abandonado todas as coisas mundanas para se entregar totalmente ao serviço da cruz, é que Ramon Llull finalmente decidiu mudar sua vida. Vendeu então a maior parte de seus bens e deixou somente uma pequena parte para sua esposa e filhos. Realizou uma peregrinação até Nossa Senhora de Recamador48 e a Santiago de Compostela, para pedir ajuda ao Senhor para realizar aqueles três novos objetivos de sua vida. Isso ocorreu em 1263, ano da famosa Disputa de Barcelona.49

Após retornar dessas peregrinações, Llull foi aconselhado por Ramon de Penyafort (c. 1185-1275) a estudar em Maiorca, ao invés de ir a Paris, como era seu desejo. Ao chegar a Maiorca, Llull abandonou sua vida de fausto e vestiu um hábito do mais vil trapo, “o mais rústico que pôde encontrar”, passagem da Vida coetânia que indica sua proximidade com o ideal franciscano – a ênfase na vestimenta pobre era uma característica dos espirituais franciscanos. Depois disso, passou a ser menosprezado pelas gentes.50

I.1. Os anos de estudo e seus primeiros escritos

Assim, durante nove anos (c. 1265-1274) Llull estudou um pouco de gramática (latim) em sua ilha natal. Comprou um escravo árabe que lhe ensinou a língua islâmica, base de uma fina cultura especializada principalmente em filosofia e medicina.51 É possível também que tenha estudado no mosteiro cisterciense de La Real (próximo a Palma) ou na escola (também cisterciense) de Valmagne, em Montpellier, onde certamente teve contato com a filosofia dos vitorinos e a medicina árabe.52

Nesse período, certo dia, desejoso de contemplar a Nosso Senhor, Ramon subiu ao monte Randa, próximo de sua propriedade – observe que o retiro espiritual em um lugar elevado era típico dos contemplativos de então, que analogamente buscavam uma elevação no plano físico ao mesmo tempo em que se elevavam espiritualmente.53 Foi quando então aconteceu outra revelação, belamente descrita na Vida Coetânia:

Ramon subiu a uma montanha não muito distante de sua casa para contemplar a Deus mais tranqüilamente. Quando ainda não havia estado ali uma semana inteira, aconteceu certo dia, enquanto olhava atentamente o céu, que subitamente o Senhor ilustrou sua mente, dando-lhe a forma e a maneira de fazer o livro contra os erros dos infiéis.54

Assim, Llull recebeu uma ilustração, a “forma” e a “maneira” de sua Arte. A palavra engloba basicamente três elementos que distinguem a filosofia luliana com muita precisão: 1) a recepção de um conjunto de conhecimentos, de sabedorias, 2) a recepção de figuras que elucidam os conteúdos textuais (as famosas figuras lulianas) e 3) uma glorificação pessoal (ilustrar, tornar-se ilustre, glorificado, explicar um conhecimento transmitido). Mais ainda: tratava-se de uma ilustração divina. Parece claro que o filósofo acreditou ter recebido um contato direto de Deus, o que torna o fato um acontecimento místico – a mística se define basicamente pela crença da possibilidade de uma comunicação direta entre o homem e Deus, o êxtase. Os místicos medievais tinham como base filosófica os tratados neoplatônicos, especialmente a obra de Proclo e do Pseudo-Dionísio.55 Dessa inspiração proveio o título de doutor iluminado.56

Com lágrimas, Llull desceu do monte e retornou ao mosteiro de La Real para aprofundar seus conhecimentos teológicos e redigir a primeira de suas obras artísticas, a Arte abreviada de encontrar a verdade, em 1274.

Não é nosso propósito aqui analisar o conteúdo de sua Arte.57 Basta dizer que até o final de sua vida, Llull desenvolveu, ampliou e reduziu, ou seja, reescreveu várias vezes sua arte combinatória, sempre com o objetivo de apresentá-la a seus contemporâneos, baseando-a em uma filosofia de conversão, enfocada para a ação e a observação da realidade concreta, e com o objetivo último de provar racionalmente a existência da Santíssima Trindade aos infiéis. E foi nesse primeiro momento criador que Llull redigiu seu Livro da contemplação em Deus, obra definida como a suma mística da Idade Média58, um dos maiores tratados confessionais e transcendentais e, depois das Confissões de Santo Agostinho, uma das maiores obras desbordantes de lirismo na Idade Média.59

Enquanto Llull iniciava a redação de seus primeiros textos, uma grande mudança acontecia em sua vida pessoal. Sua esposa, sofrendo com o estado contemplativo de seu marido, em 1275 solicitou em juízo que fosse designado um procurador para cuidar da administração de suas posses:

É certo e manifesto que Blanca, mulher de Ramon Llull, veio diante de nós, Pedro de Caldes, juiz, etc., para afirmar e denunciar ao dito juiz que Ramon Llull, seu marido, se tornou tão contemplativo que não se ocupa da administração de seus bens temporais e assim eles se perdem e são destruídos. Por isso, suplicando, pede com essa alegação, para ela e os filhos comuns dela e do dito Ramon Llull, que escolham um curador que reja, governe, proteja, defenda e conserve os bens do dito Ramon Llull.

E nós, Pedro de Caldes, tendo escutado a dita petição e efetuado uma acurada investigação sobre a vida e os costumes do dito Ramon Llull, e como consta que o citado Ramon Llull optou a tal ponto pela vida contemplativa que quase não se ocupa da administração de seus bens, tendo deliberado sobre o caso, e vendo que Dom Pedro Galcerán, cidadão de Maiorca, parente da dita Blanca, sem qualquer retribuição já se encarrega disso, é a pessoa adequada para a curadoria e administração dos ditos bens, damos e designamos o dito Pedro como curador e administrador de todos os bens móveis e imóveis do dito Ramon Llull, outorgando-lhe plenos poderes para reger, governar, reclamar e defender os ditos bens nos tribunais e fora deles, em juízo e fora de juízo, efetuando tudo o que seja útil e evitando ou deixando de lado o que seja prejudicial para a conservação dos ditos bens.

Conseqüentemente, eu, Pedro Galcerán, recebendo de vós a mencionada curadoria dos ditos bens, prometo reger, governar e defender os ditos bens tanto quanto posso, e por isso obrigo, etc., juro e dou como avalista Dom Pero Cuc, que obrigou, etc.

Testemunhos: Bernardo Rosselló, Berenguer de Castelló e Miquel Rotlan.60

A Vida coetânia nada nos informa dessa “dolorosa tragédia familiar”61, e tampouco Llull falou sobre isso em seus escritos. Nosso filósofo nunca se lembrou de sua esposa em seus livros, só dedicou a seu filho Domingo algumas obras!

O primeiro rei que se interessou por seus escritos foi Jaime II. Sabedor da fama do maiorquino, o rei o convocou a uma audiência em Montpellier com o objetivo que um frade franciscano – possivelmente Bertrand Berenguer (que antes foi professor de Sagrada Teologia em Montpellier) – lesse suas obras para assegurar a ortodoxia de sua religiosidade. A Vida coetânia especifica o Livro da contemplação:

Quando Ramon ali chegou, o rei fez certo frade menor examinar seus livros, especialmente umas meditações que ele havia feito em devoção sobre todos os dias do ano, marcando trinta parágrafos especiais para cada dia, meditações que aquele frade, não sem admiração, as encontrou cheias de profecia e devoção católica.62

Ramon tinha cerca de quarenta e quatro anos. Foi quando rogou ao príncipe que “...fosse edificado um mosteiro no reino de Maiorca, bem dotado de posses, no qual pudessem viver treze frades para aprender a língua mourisca para converter os infiéis, e aos quais fossem dados cinqüenta e cinco florins de ouro para seu sustento todos os anos.”63

Supõe-se que a petição de Ramon ao rei ocorreu em 1275 e que os franciscanos iniciaram seus estudos ali em 1276. A fundação foi confirmada no dia 17 de outubro de 1276 por uma bula do papa João XXI (curiosamente um papa português).64

A Vida coetânia não proporciona nenhuma informação sobre a vida de Llull entre 1275 e 1285. No final desse período, nosso autor entrou no cenário político “internacional”, em um momento que ocorria uma série de mudanças significativas que tiveram uma grande importância na época. Como esse trabalho abordará algumas breves passagens do Livro da contemplação, interrompo aqui essa breve contextualização histórica e biográfica de Ramon Llull.

II. O Livro da contemplação em Deus (1273-1274)

A enciclopédia mística luliana, a Divina comédia catalã65, o Livro da contemplação é o primeiro grande texto de Ramon Llull.66 Ele pode ser comparado às Confissões de Santo Agostinho, tanto por sua graça desalinhada e seu tom patético quanto pelo fato de ser um livro no qual encontramos a história dos estados de ânimo, dos estados interiores de nosso autor67, o que nos propicia realizar um pouco da história das atitudes mentais, da consciência de um homem medieval diante de seu mundo, de suas expectativas e ilusões de uma reforma cristã (que nunca ocorreu). Pois existe um documento mais propício para investigar as mais íntimas e sinceras idéias de um autor cristão e medieval que uma confissão a Deus?

O que quero dizer com isso é que o Livro da contemplação é uma oportunidade única para conhecer e construir certa imagem mental, certamente muito próxima daquilo que pensou o filósofo, o que nos permite ter uma compreensão mais profunda de suas idéias e, no caso, a respeito de Deus.

Pois bem, o primeiro objetivo da obra é unir-se a Deus em contemplação, um dos maiores objetivos dos religiosos medievais. A contemplação, a vida dedicada exclusivamente ao conhecimento do divino, para as culturas antigas, era um estado mental sumamente bom (summum bonum), pois olhava a forma do bem: ao buscar Deus com sua mente, o místico deveria refletir sobre as virtudes e, assim, se afastar dos vícios.

Por exemplo, Aristóteles disse que a atividade da vida contemplativa – a vida que olha a verdade – era o que melhor existia em nós, pois era a atividade virtuosa, a única estimada por si mesma, isto é, a própria felicidade.68 O cristianismo nada mais fez que incorporar esse modo supremo de vida e integrá-lo em sua concepção, em seu conceito de beatitude.69

Dessa forma, com uma concepção integral do homem – como toda a filosofia luliana70 – o Livro de contemplação engloba todas as atividades humanas. Com a obra, Llull quis escrever um texto confessional, uma confissão transcendental, na bela definição de Carreras y Artau.71 São linhas emocionadas, com uma grande e terna paixão com a qual nosso autor inicia cada capítulo sempre se dirigindo diretamente a Deus, “Benigno Senhor, gracioso, amoroso...” para falar não só das potências da alma e das coisas divinas mas também do mundo, dos homens e das angústias que pôde perceber em seu tempo.

Como todo texto medieval, o Livro da contemplação tem uma divisão analógica, forma primeira do pensamento na Idade Média.72 São cinco livros, como as cinco chagas de Cristo na cruz.73 Por sua vez, cada livro está dividido em quarenta distinções, exatamente como os quarenta dias de Cristo no deserto.74

As quarenta distinções estão divididas em trezentos e sessenta e cinco capítulos, todos os dias do ano, e mais um capítulo complementar, pois as seis horas restantes de cada ano, ao chegar ao quarto ano, formam um dia.75 De cada capítulo constam dez parágrafos, em memória aos dez mandamentos dados a Moisés, e cada parágrafo se divide em três partes, em reverência à Unidade divina. Assim, cada capítulo tem trinta partes, em memória aos trinta dinheiros pelos quais Jesus foi vendido.

O Primeiro Livro está dividido em nove distinções, de acordo com os nove céus criados por Deus, o Segundo Livro possui treze distinções, concordando com os doze apóstolos e Cristo, o Terceiro Livro dez distinções (conforme os dez sentidos – cinco corporais e cinco espirituais), o Quarto Livro tem seis distinções (como os “seis caminhos”, alto, baixo, direito e esquerdo, frente e atrás), e o Quinto Livro está dividido em duas distinções, para se referir às duas intenções dadas ao homem por Deus. E conclui: “Senhor Deus! Assim como Vós sois um Deus, nós colocamos estes cinco livros sob um nome, o qual é o Livro da contemplação em Deus.”76

Desse modo, o Livro é também um reflexo da realidade criada por Deus, uma participação com a essência do Criador, uma imagem do Modelo Superior77, mas, sobretudo, uma contemplação, uma contemplação de leitura, como indica o próprio autor.78

II.1. A infinidade de Deus

A infinidade é a extensão que não tem fim, como Deus,
E é eterna, pois não tem princípio.
(Tabuleiro da Arte, c. 1290)79

Ramon inicia o tema da infinidade divina demonstrando sua capacidade filosófica de observar os fenômenos da natureza e relacioná-los com idéias metafísicas:

Oh, Deus, grande e maravilhoso Senhor!
Bem sabeis Vós que se algo pudesse correr como um relâmpago,
se mover do meio do mundo até o extremo do firmamento
e subir correndo infinitamente por todos os seis caminhos,
ainda assim não encontraria Vosso fim.80

A observação dos fenômenos naturais não era novidade em seu tempo. Os vitorinos no século XII já haviam descoberto a natureza como fonte inesgotável de observação e, no século XIII, a tradição franciscana considerava o mundo sensível um livro, um caminho para se chegar a Deus (mas só aos espíritos mais elevadamente contemplativos).81

Ao iniciar o tema da infinidade com uma observação dimensional e física, Llull segue a tradição franciscana – ele mesmo fora influenciado em sua decisão de mudar de vida após ouvir um sermão sobre a vida de São Francisco, como vimos.

Além disso, ele também parece inverter a tradição aristotélica, mesclando-a com o significado metafísico do conceito de infinito desenvolvido a partir de Plotino. Aristóteles desenvolveu o conceito de infinidade potencial, isto é, como uma disposição de grandeza – aquilo que não pode ser percorrido (Física, III, 4, 204-203). Ademais, sabemos que Llull teve acesso ao texto da Física de Aristóteles, pois em outra obra sua dedicada a seu filho, a Doutrina para crianças, ele sugere a leitura dessa obra, além de várias outras do Estagirita. [82]82

O texto prossegue criando uma série de analogias entre a pequenez do ser e a imensidão de Deus: o pensamento do filósofo se apequena a ponto de se tornar quase nada, pois é pobre de imaginar a infinidade divina:

Mas não é nenhuma maravilha, Senhor,
se meu entendimento se apequena e se torna quase nada
quando cogita em uma coisa infinita,
pois se meu entendimento não pode atingir a pequenez do átomo,
que é tão pouca que não se pode diminuir,
como poderá atingir a grandeza de Vossa essência,
maiormente como a parte do átomo seja coisa finita
e Vossa essência seja sem fim?83

Essa incapacidade da potência imaginativa só pode ser resolvida através de um caminho: o do amor. Pois se Deus quiser, pode colocar um amor tão grande no coração do contemplativo que ele O amará a tal ponto que conseguirá imaginar Sua infinidade e Seu amor.

Mas Ramon se considera mesquinho e perverso, pois amou as coisas de pouca virtude e proveito e se esqueceu de Deus. Por isso se pergunta: como Deus pôde permitir que ele Lhe permanecesse desobediente e obediente por coisas tão pequenas, mesquinhas e finitas?84 Assim, o filósofo se autopenitencia: se ele voltar a se esquecer de Deus, pede para ser esquecido, desamado e menosprezado, pois é uma grande afronta uma criatura estar na terra e desconhecer Seu criador.85

Após muitos louvores e bênçãos, Ramon encerra suas considerações a respeito da infinidade divina com uma interessante observação: os olhos humanos falham em compreender as criaturas criadas por Deus porque “...tudo o que existe em nós é finito, e tudo o que existe em Vós é infinito”86:

E assim Vós, Senhor,
que perdoais àqueles que Vos pedem misericórdia
e que sois esperança daqueles que Vos pedem,
Vos agrada que eu, com toda a força que me haveis dado,
Vos sirva, orando, temendo e amando.
E não esqueça, Senhor, o Vosso servidor,
que confia em seu Deus.87

II.2. A eternidade de Deus: o que não tem princípio

Eternidade ou duração é a propriedade em razão da qual a bondade,
a grandeza, o poder e os outros princípios da substância duram.
(Tabuleiro geral, 1293-1294)88

Ramon divide sua digressão meditativa sobre a eternidade de Deus em duas partes: o princípio e o fim. Sua primeira constatação é que a contemplação da eternidade divina deixa o homem confuso. Ademais, algo sem princípio só pode ser contemplado com os conceitos de nobreza e bondade. Contudo, o entendimento humano tem um princípio, a eternidade não, e as coisas temporais ainda se opõem e prejudicam esse entendimento.

Resta, portanto, suplicar a Deus que ajude o filósofo a sair de sua pobreza e vileza.89 E novamente o amor é condição sine qua non para o esforço de compreensão do contemplativo: “Tal amor, Senhor, é necessário ao Vosso servo, para que ele seja tão diligente em Vos servir e Vos amar; e não deve caber nele outro amor a não ser o Vosso”.90 Ramon tem a esperança que Deus escute suas preces:

Senhor Deus! Muitas vezes acontece de homens vis,
pobres e injuriados ficarem diante de reis,
e os reis, por sua grande humildade,
se humilharem tanto a ponto de escutarem suas palavras
e atenderem suas preces,
dando a eles satisfação de suas injúrias.
Assim, Senhor, se Vós,
que sois Rei dos reis e Senhor dos senhores,
Vos humilhasse ao vosso servo,
apesar dele ser pobre e mesquinho,
daria um prazer se o escutasse e o atendesse,
nesse momento em que ele Vos adora e contempla.91

A contemplação é um caminho solitário: o contemplativo sequer tem certeza de que será ouvido. Mas o ato se auto-justifica, pois é nobre em si. E por contemplar a Deus, Ramon não teme sequer seus inimigos, pelo contrário, os repreende por suas faltas. E assim, os parágrafos seguintes dão ensejo ao filósofo de lamentar sua pequenez e a impossibilidade de atingir algo que não tem princípio.92

II.3. A eternidade de Deus: o que não tem fim

O fato de a essência de Deus não ter fim significa aos homens a dignidade daquilo que é perdurável – trata-se do primeiro lampejo daquilo que será posteriormente chamado de dignidade divina. E a cogitação da eternidade divina faz com que a maravilha se expanda no entendimento humano, pois as coisas pequenas e mesquinhas se maravilham com as coisas elevadas e nobres.93 Isso proporciona ao filósofo tratar da bem-aventurança daqueles que durarão infinitamente na glória, e do mal dos mesquinhos, “...que sofrendo as penas infernais durarão sem fim”.94

Além disso, Llull critica quase que verbalmente os averroístas (que então defendiam a eternidade do mundo), pois em uma passagem afirma que tudo tem princípio, exceto Deus, “...e nada dura eternamente”.95 Em várias passagens do Livro da contemplação Ramon critica as posições averroístas96, o que o coloca seu texto em uma notável sintonia com os debates intelectuais de seu tempo (por exemplo, em 1270 o bispo de Paris Estevão Tempier condenou uma série de proposições defendidas pelos averroístas da Universidade de Paris).97

A contemplação de Llull foi posta em seu coração por Deus, pensa nosso autor. Ele então pede que ela não lhe seja tirada para que a tentação que tinha não retorne:

Oh, Senhor,
tão poderoso e tão nobre que não concede graça,
a não ser àqueles que Vós desejais!
E como Vós sois poderoso, em todos os tempos,
peço-Vos, Senhor, que não leveis a contemplação que haveis colocado em meu coração,
porque se o fizésseis, eu contemplaria as coisas vis e finitas em minha alma,
e escolheria dentre aquelas.98

Llull ainda estabelece uma analogia entre a possibilidade de saber o fim do que tem princípio e a impossibilidade de saber o fim do que não tem princípio:

Senhor Deus,
que atende os pecadores em suas dificuldades!
Como há pouco tempo entre o princípio e o fim da coisa que tem princípio e fim,
não é impossível saber o fim da coisa que tem princípio.

Mas se houvessem tantos corpos quanto existem grãos de areia, gotas d’água e átomos no ar,
não poderíamos entender o fim da coisa que não tem princípio.
E isso ocorre, Senhor,
porque todos eles seriam comprimidos em cômputo entre o princípio e o fim.
Mas isso não é assim com Vós,
porque não sois comprimido nem por cômputo,
nem por princípio, nem por fim.99

Conclusão

Por intermédio da ascensão contemplativa100, Ramon Llull tratou pela primeira vez no Livro da contemplação em Deus das dignidades divinas, em um notável esforço de compreender sua fé.

Articulando os conhecimentos adquiridos em seu período de nove anos de reclusão e estudos, Ramon parece ter se valido da tradição aristotélica e neoplatônica para abordar a infinidade e a eternidade de Deus.

O filósofo pensou esses atributos, virtudes, como essenciais em Deus, e que deveriam ser considerados em sua atividade ad intra (atividade que posteriormente seria identificada por ele como a atividade da própria Santíssima Trindade, a atividade pura – o Pai produzindo o Filho e espirando o Espírito Santo, a primeira intenção de Deus). Essas dignidades divinas lulianas eram princípios indemonstráveis.101

O tom confessional e patético do texto ressalta todo o imenso esforço do autor em criar uma obra contemplativa. Além disso, o amor que permeia todos os parágrafos une o filósofo maiorquino à tradição franciscana: sem amor, o amor a Deus, “aquilo com o qual o amigo ama seu amado”, o homem não pode contemplar nem Deus, nem Sua criação.

Portanto, com amor, a meditação contemplativa considerava as dignidades divinas para fugir dos vícios e se aproximar das virtudes. Além de seu objetivo reformador e de pregação, o Livro da contemplação tem esse cariz: a confissão dos pecados de seu autor.

Percorridos esses caminhos da experiência religiosa e mística de Ramon Llull, concluo indicando ao leitor moderno a passagem do texto que explica como devemos dar graças a Deus pelo Livro da contemplação, uma intenção bem de acordo com a atitude metodológica de leitura de Ramon102 – e assim também destaco o imenso estranhamento que causa a nós, pós-modernos, a atitude dos medievais perante o livro, a leitura, a escrita e a meditação:

Ah, Deus, que é grande acima de todas as grandezas!

Ah, Deus, que é forte acima de todas as forças!

Como esse livro é dividido em tantas razões e em tantas estranhas, novas e necessárias provações, como esse livro é tão necessário ao mundo para ocasionar a confirmação da verdadeira fé, a demonstração das verdadeiras razões e a multiplicação da devoção em Vós, para Vos amar, louvar, honrar, servir e obedecer, e como o Vosso servidor, com a Vossa ajuda e a Vossa graça, acabou e completou esse livro, por isso, Senhor, faço graças e mercês a Vós por esse livro.

Assim, com o coração humilde e devoto ele beija a terra e eleva suas mãos e seus olhos ao céu e diz: “Que a glória, o louvor, a reverência e a honra sejam dadas e feitas a Vós por todos os tempos, Senhor Deus, que haveis feito tanta graça ao vosso submetido,
pois ele chegou ao fim dessa obra e à arte da contemplação.”

Essa obra e arte, Senhor, tem sido ao Vosso submetido uma obra de imenso trabalho e perigo sensual e intelectual, pois assim como o grande feixe fere e destrói o dorso da besta, da mesma forma, pela imensidão e sutileza das novas e muitas razões, Vosso submetido tem tido muitos sofrimentos, trabalhos e perigos, e tem sofrido muitas afrontas e escárnios das gentes.

Assim, como Vós, Senhor, durante tanto tempo e tão longamente me sustentou e me ajudou, e como eu sou um homem mesquinho e pecador, de pobre poder e saber, e estou confiando e esperando por Vós, eu, Senhor, com todas as minhas forças sensuais e intelectuais faço graças e mercês a Vós, dando a Vós todo o louvor e todo o honramento de minhas forças sensuais e intelectuais, na presença de Vosso santo e glorioso altar.103

Notas

  • 1. “Contemplació es actu de pensa qui em Deus pensa. Contemplar es parlar ab Deu de ses raons e dels actus d’aquelles” – Citado em A. BONNER, A., M. I. RIPOLL PERELLÓ, Diccionari de definicions lul.lianes, Col.lecció Blaquerna, 2, Universitat de Barcelona / Universitat de les Illes Balears, 2002, p. 133.
  • 2. Henrique C. de Lima VAZ, Experiência mística e filosofia na tradição ocidental, São Paulo, Loyola, 2000, p. 20.
  • 3. O Livro da contemplação foi publicado em RAMON LLULL, Obres Essencials (OE), Barcelona, vol, II, 1960, p. 97-1258.
  • 4. Para uma análise da conquista, ver A. SANTAMARÍA, “La expansión político-militar de la Corona de Aragón bajo la dirección de Jaime I: Baleares”, Jaime I y su época. X Congreso de Historia de la Corona de Aragón, Zaragoza, Institución “Fernando el Católico, 1979, p. 91-146.
  • 5. Ver PAU CATEURA BENNÀSSER, Mallorca en el segle XIII, Mallorca, El Tall Editorial, 1997, p. 19-22. Para um resumo da formação da Catalunha, ver Bernard REYLLY, Cristãos e Muçulmanos – a luta pela Península Ibérica, Lisboa, Editorial Teorema, s/d, p. 191-217.
  • 6. W. Montgomery WATT, Historia de la España Islámica, Madrid, 1974.
  • 7. A. BONNER, “Ambient Històric i Vida de Ramon Llull”, OS, vol. I, p. 04.
  • 8. Ver René NELLI, Os cátaros, Lisboa, Edições 70, 1980.
  • 9. Odilo ENGELS, “El rey Jaime I de Aragón y la política internacional del siglo XIII”, Jaime I y su época. X Congreso de Historia de la Corona de Aragón, op. cit., p. 225-226.
  • 10. Pedro II, o Católico (1196-1213) morreu na batalha de Muret (1213), quando defendeu seus vassalos setentrionais comprometidos com a heresia cátara. Ver Adeline RUCQUOI, História Medieval da Península Ibérica, Lisboa, Editorial Estampa, 1995, p. 185. Para a cruzada albigense, ver especialmente José Rivair MACEDO, Heresia, cruzada e inquisição na França medieval, Porto Alegre, Edipucrs, 2000.
  • 11. Robert D. F. PRING-MILL, Estudis sobre Ramon Llull, Barcelona, Publicacions de l’Abadia de Montserrat, 1991, p. 38.
  • 12. J. N. HILLGARTH, Diplomatari Lul.lià, Edicions de la Universitat de Barcelona, 2001.
  • 13. Jordi RUBIÓ I BALAGUER, Ramon Llull i el lul.lisme, Barcelona, Publicacions de l’Abadia de Montserrat, 1985, p. 36.
  • 14. J. N. HILLGARTH, Diplomatari Lul.lià, op. cit., p. 11.
  • 15. Ricard SOTO I COMPANY, “Alguns casos de gestió ‘colonial’ feudal a la Mallorca del segle XIII”, La formació i expansió del feudalisme català. Actes del col.loqui organizat pel Col.legi Universitari de Girona, 8/11 de gener de 1985 (a cura de J. Portella), p. 349.
  • 16. J. N. HILLGARTH, Los reinos hispánicos, 1250-1516. Vol. I, 1250-1410: Un equilibrio precário, Barcelona-Buenos Aires-Mèxic, Ediciones Grijalbo, 1979, p. 51-53.
  • 17. J. N. HILLGARTH, “Vida i importancia de Ramon Llull en el context del segle XIII”, Anuario de Estudios Medievales 26, Barcelona, Consejo Superior de Investigaciones Científicas, 1996, p. 968.
  • 18. Para a influência da poesia trovadoresca occitana na Catalunha, ver Martín DE RIQUER, Història de la literatura catalana, Barcelona, Edicions Ariel, 1964, vol. I, p. 21-196.
  • 19. J. N. HILLGARTH, El problema d’un imperi mediterrani català, 1229-1327, Palma de Mallorca, Editorial Moll, 1984, p. 121.
  • 20. Inclusive mercadores de Pisa e Gênova. J. N. HILLGARTH, El problema d’un imperi mediterrani català, 1229-1327, op. cit., p. 47.
  • 21. A maioria era escrava, como resultado da conquista de Jaime I. A. BONNER, “Ambient Històric i Vida de Ramon Llull”, op. cit., p. 07.
  • 22. J. N. HILLGARTH, Los reinos hispánicos, 1250-1516. Vol. I, 1250-1410: Un equilibrio precario, op. cit., p. 276. Os judeus também eram intermediários no tráfico de ouro na rota que vinha do norte da África até Maiorca.
  • 23. Álvaro SANTAMARÍA, Ejecutoria del Reino de Mallorca, Mallorca, Ajuntament de Palma, 1990, p. 283.
  • 24. Álvaro SANTAMARÍA, Ejecutoria del Reino de Mallorca, op. cit., p. 316. Ver também Fernando DOMÍNGUEZ REBOIRAS, “Introducción General. La vida de Ramón Llull alrededor del año 1300”, ROL XIX, 1993, p. XXIV-XXVII.
  • 25. David ABULAFIA, “El comercio y el reino de Mallorca, 1150-1450”, David ABULAFIA y Blanca GARÍ (dir.), En las costas del Mediterráneo Occidental. Las ciudades de la Península Ibérica y del reino de Mallorca y el comércio mediterráneo en la Edad Media, Barcelona, Ediciones Omega S. A., 1997, p. 115-154.
  • 26. Charles-Emmanuel DUFOURCQ, L’Espagne Catalane et le Maghrib aux XIII et XIV siècles. De la bataille de Las Navas de Tolosa (1212) à l’avènement du sultan mérinide Abou-l-Hasan (1331), París, Presses Universitaires de France, 1966, p. 665 (mapa).
  • 27. Alexander FIDORA, “Raimundo Lúlio – Educador das Religiões”, Revista Mirandum 15, São Paulo, Editora Mandruvá, ano VIII, 2004.
  • 28. Robert D. F. PRING-MILL, Estudis sobre Ramon Llull, op. cit., p. 38.
  • 29. Jaume I. Crònica o Llibre dels feits (a cura de Ferran SOLDEVILA), Barcelona, Edicions 62, 1982, de autoria do próprio rei Jaime I, que a redigiu (ou ditou) nos anos 1244-1274, entre Játiva e Barcelona, incentivado pela conquista de Maiorca, que considerou um feito extraordinário. Ver Martín DE RIQUER. “El mundo cultural en la Corona de Aragón con Jaime I”, Jaime I y su época. X Congreso de Historia de la Corona de Aragón, op. cit., p. 306.
  • 30. Para a educação cavaleiresca de Ramon Llull, ver Tomás CARRERAS Y ARTAU, “L’esperit cavalleresc en la producció lulliana”, La Nostra Tierra, Palma de Mallorca, 1935, p. 319-321. Hillgarth conjectura que possivelmente a informação que a Vida coetânia nos dá a respeito do cargo de senescal (ou majordomo) de Jaime II é falsa, já que ele não possuía nem a riqueza nem a estirpe necessárias para ostentar tal cargo (J. N. HILLGARTH, Diplomatari Lul.lià, op. cit., p. 12), opinião compartilhada por Álvaro Santamaría (Ramon Llull y la Corona de Mallorca. Sobre la estructura y elaboración de la Vita Raimundi Lulli. Mallorca, 1989).
  • 31. RAMON LLULL, Vida coetânia, I, 2, OS, vol. II, p. 12.
  • 32. “Ah Senyor meu e Déu meu! No som jo aquell qui pusca açò vanar, car jo som aquell qui he traïts e enganats molts amics meus, als quals he dites moltes d’avolees e de falsies e he fetes moltes d’injúries. E tot açò faïa per ço car jo no sabia ni cogitava vostra veritat ni la vertut e noblea qui és em vostra vera veritat.” – RAMON LLULL, Livro da contemplação, cap. XXIII, 23, p. 149.
  • 33. “Car no hi ha valgut, Sènyer, ajuda d’àngels, ni d’escriptures de profetes, ni amonestament de religiosos, que jo sia hom estat de bona vida; enans, jassia ço que los àngels m’han ajutat e.ls religiosos m’han preïcat, no roman per ço que jo no sia esdevengut lo pus mal home e.l pus pecador de tota esta ciutat e de totes mes encontrades.” – RAMON LLULL, Livro da contemplação, cap. XXXVII, 26, p. 177.
  • 34. “Com jo, Sènyer, haja injuriats mos veïns e mos parents e mos amics, havent enveja de lurs bens e de lurs mullers, aquelles injuries, Sènyer, no eren altra cosa si no injuriaments de la mia anima quis desordonava a ésser digna de posseir la celestial glòria.” – RAMON LLULL, Livro da contemplação, cap. LXXV, 11, p. 259.
  • 35. RAMON LLULL, Vida coetânia, I, 2, OS, vol. II, p. 12.
  • 36. RAMON LLULL, Vida coetânia, I, 2, OS, vol. II, p. 12.
  • 37. “Quan fui gran e sentí del món sa vanitat, / comencé a far mal e entré en pecat, / oblidand Déus gloriós, siguent carnalitat; / mas plac a Jesucrist, per sa gran pietat, / que.s presentà a mi cinc vets crucifigat, / per ço que.l remembràs e.n fos enamorat / tan fort, que eu tractàs com ell fos preïcat / per tot lo món, e que fos dita veritat / de la su trinitat e com fo encarnat; / per què eu fui espirat en tan gran volentat, / que res àls no amé mas que ell fos honrat; / e adoncs comencé com lo servís de grat.” – RAMON LLULL, “Desconsolo”, OE, vol. I, 1959, II, 13-24, p. 1309.
  • 38. RAMON LLULL, Vida coetânia, I, 4, OS, vol. II, p. 12-14.
  • 39. Ver André VAUCHEZ, A Espiritualidade na Idade Média Ocidental, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1995, especialmente o capítulo III (p. 65-123).
  • 40. RAMON LLULL, Vida coetânia, I, 5, OS, vol. II, p. 14.
  • 41. A denominação “era do otimismo” para o século XIII é de R. W. SOUTHERN, Western Views of Islam in the Middle Ages, Cambridge, Massachussets, 1962.
  • 42. RAMON LLULL, Vida coetânia, I, 6, OS, vol. II, p. 14-15.
  • 43. RAMON LLULL, Vida coetânia, I, 6, OS, vol. II, p. 14.
  • 44. Especialmente por Raimundo de Peñafort, que por volta de 1245 organizou em Túnis, Múrcia e Maiorca escolas de árabe e hebreu para missionários.
  • 45. Miquel BATLLORI, Ramon Llull i el lul.lisme. Obra completa, Vol. II, València, Biblioteca d’estudis i investigacions, 1993, p. 09-10.
  • 46. Ver, por exemplo, J. N. HILLGARTH, Diplomatari Lul.lià, op. cit., p. 11-12.
  • 47. O sermão aconteceu em uma festa dedicada a São Francisco, em um 4 de outubro.
  • 48. Santuário de la Dordoña.
  • 49. Na Disputa de Barcelona de 1263, o rabino Moisés ibn Nahman (Nahmânides) debateu as questões da fé com frei Pau Cristià, um judeu convertido, no palácio real diante do rei Jaime I. Ver Ricardo DA COSTA e Jordi PARDO PASTOR, “Ramon Llull (1232-1316) e o diálogo inter-religioso: cristãos, judeus e muçulmanos na cultura ibérica medieval: O Livro do gentio e dos três sábios e a Vikuah de Nahmânides”. In: LEMOS, Maria Teresa Toribio Brittes e LAURIA, Ronaldo Martins (org.). A integração da diversidade racial e cultural do Novo Mundo. Rio de Janeiro: UERJ, 2004.
  • 50. OS, vol. I, p. 17, n. 57.
  • 51. Mais tarde o escravo tentaria matá-lo. A Vida coetânia descreve esse fato (OS, vol. I, 12-13, p. 21).
  • 52. OS, vol. I, p. 19.
  • 53. O monte Randa tem quase 700 metros de altura.
  • 54. OS, vol. I, III, 14, p. 23.
  • 55. Ver Nicola ABAGNANO, Dicionário de Filosofia, São Paulo, Martins Fontes, 1998, p. 671-673.
  • 56. “Al reconstruir los episodios de la vida de Ramón Llull (1232-1316), nos encontramos con aquellas condiciones que afectan a la inmensa mayoría de personajes de la Edad Media. En sus vidas suele existir un acontecimiento que señala un antes y un después, que se traducen para la historia en una imprecisa etapa de preparación y en una generalmente segura cronología posterior. El acontecimiento referido será, según la persona de quien se trate, su acceso a la vida política, su graduación académica o su conversión a una vida más religiosa.” – Jordi GAYÀ ESTELRICH, “Biografía de Ramón Llull”, Internet.
  • 57. Para a Arte luliana, ver Tomás CARRERAS I ARTAU, Historia de la filosofía española, Madrid, 1939, vol. I, p. 345-389.
  • 58. Miquel BATLLORI, Ramon Llull i el lul.lisme. Obra completa, Vol. II, València, Biblioteca d’estudis i investigacions, 1993, p. 11.
  • 59. OE, vol. II, 92-93.
  • 60. Ver, por exemplo, J. N. HILLGARTH, Diplomatari Lul.lià, op. cit., p. 37.
  • 61. Jordi RUBIÓ I BALAGUER, Ramon Llull i el lu.lisme, op. cit., p. 38.
  • 62. RAMON LLULL, Vida coetânia, I, 16, OS, vol. II, p. 25.
  • 63. RAMON LLULL, Vida coetânia, I, 17, OS, vol. II, p. 26.
  • 64. Ver J. M. CRUZ PONTES, “Miramar en sus relaciones con Portugal y el lulismo medieval portugués”, Actas del II Congresso Internacional de Lulismo, Palma de Mallorca, Maioricensis Schola Lullistica, vol. I, 1979, p. 261-277; e também S. GARCIAS PALOU, El Miramar de Ramon Llull, Palma de Mallorca, Instituto de Estudios Baleáricos, Consejo Superior de Investigaciones Científicas, 1977.
  • 65. TORRAS I BAGES, La tradició catalana, Barcelona, 1935, p. 314.
  • 66. Recordemos que este é o segundo escrito luliano. O anterior é um comentário à obra de Al-Gazali (Abu Hamid Muhammad ibn Muhammad al-Gazali, 1058-1111), um teólogo muçulmano. A obra de Llull é o Compendium logicae Algazelis (c. 1271-2, em Montpellier). Para a obra de Al-Gazali, ver Miguel Attie FILHO, Falsafa. A Filosofia entre os árabes, São Paulo, Editora Palas Atena, e especialmente Rafael RAMÓN GUERRERO, Filosofías árabe y judia, Madrid, Editorial Síntesis, s/d, p. 168-176.
  • 67. Tomás e Joaquín CARRERAS I ARTAU, Historia de la filosofía española, Madrid, 1939, vol. I, p. 553.
  • 68. ARISTÓTELES, Ética a Nicómano, X, 7, 1177ª até 1177b, 31. Essa opinião foi compartilhada pela cultura muçulmana. Ver, por exemplo, al-Farabi, El camino de la felicidad (Kitab al-tanbih ‘ala sabil al-as ‘ada), Madrid, Editorial Trotta, 2002.
  • 69. Simon BLACKBURN, Dicionário Oxford de Filosofia, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1997, p. 74-75; Nicola ABBAGNANO, Dicionário de Filosofia, São Paulo, Martins Fontes, 1998, p. 198-199. Curiosamente, uma das características do Humanismo e do Renascimento é a suposta “ruptura” dessa tradição e o reconhecimento do valor da vida prática ou ativa, do trabalho e da atividade mundana – e nesse ponto a Reforma também coincidiu com o Renascimento.
  • 70. Ver especialmente Fernando DOMÍNGUEZ REBOIRAS, “El discurso luliano De homine en el contexto antropológico coetáneo”, J. CORCÓ, A. FIDORA, J. OLIVES PUIG, J. PARDO PASTOR (coord.), Què és l’Home? Reflexions antropològiques a la Corona d’Aragó durant l’ Edat Mitjana, Barcelona, Prohom Edicions, 2004, p. 101-127.
  • 71. CARRERAS I ARTAU, “L’obra I el pensament de R. Llull”, OE, vol. I, 1959, p. 55.
  • 72. A respeito da importância da analogia no pensamento medieval, ver especialmente Hilário FRANCO JR., “Modelo e imagem: o pensamento analógico medieval”, Ângela Vaz LEÃO e Vanda O. BITTENCOURT (org.), Anais do IV Encontro Internacional de Estudos Medievais – IV EIEM, Belo Horizonte, PUC Minas, 2003, p. 39-58.
  • 73. Não há nenhuma passagem na Bíblia sobre os números das chagas de Cristo. Por exemplo, em João (20, 27-29): “Disse depois a Tomé: ‘Põe teu dedo aqui e vê minhas mãos! Estende tua mão e põe-na no meu lado e não sejas incrédulo, mas crê!’ Respondeu-lhe Tomé: ‘Meu Senhor e meu Deus!’ Jesus lhe disse: ‘Porque viste, creste. Felizes os que não viram e creram!’
  • 74. Mt 4, 1-11.
  • 75. Tomás y Joaquín CARRERAS I ARTAU, Historia de la filosofía española, Madrid, 1939, vol. I, p. 549.
  • 76. No Prólogo da obra (OE, vol. II, p. 107), Llull explica essa analogia numérica dos mistérios da fé cristã.
  • 77. Hilário FRANCO JR., “Modelo e imagem: o pensamento analógico medieval”, op. cit., p. 54.
  • 78. RAMON LLULL, Livro da contemplação, cap. CCCLXVI, III, 19, p. 1255.
  • 79. “Infinitat es steniment que no ha terme, axí com Deu, e eternitat, qui no ha comensament.” – Citado em A. BONNER, A., M. I. RIPOLL PERELLÓ, Diccionari de definicions lul.lianes, op. cit., p. 199.
  • 80. “Oh Déus, sènyer gran e meravellós! Bé sabets vós que si tant s’era que una cosa pogués córrer com a lamp e que.s mogués del mig del món e anàs tro a l’extrem del firmament, e puixes que anàs per totes les sis dreceres, que infinidament poria córrer, que encara no trobaria a vós fi.” – RAMON LLULL, Livro da contemplação, cap. IV, 1, p. 112-113.
  • 81. Tullio GREGORY, “Natureza”, Jacques LE GOFF & Jean-Claude SCHMITT (coord.), Dicionário Temático do Ocidente Medieval II, São Paulo/Bauru, EDUSC/Imprensa Oficial do Estado, 2002, p. 263-277.
  • 82. RAMON LLULL, Doctrina pueril (a cura de Gret Schib), Barcelona, Editorial Barcino, 957, cap. LXXVII, 15, p. 179.
  • 83. “E si mon enteniment s’apoqueix, Sènyer, e torna quaix a no-re com cogit en cosa infinita, no és nulla meravella; car si lo meu enteniment no pot atènyer la poquea de l’àtomus, qui és tan poca que no.s pot minvar, ¿com porà atènyer a la granea de la vostra esencia, e majorment com la part de l’àtomus sia cosa fenida e la vostra essència sia sens fi?” – RAMON LLULL, Livro da contemplação, cap. IV, 5, p. 113.
  • 84. RAMON LLULL, Livro da contemplação, cap. IV, 13, p. 113.
  • 85. RAMON LLULL, Livro da contemplação, cap. IV, 14-15, p. 113.
  • 86. RAMON LLULL, Livro da contemplação, cap. IV, 29, p. 114.
  • 87. “E doncs vós, Sènyer, qui perdonats a aquells qui misericòrdia vos demanen, e que sóts esperança d’aquells qui vos preguen, plàcia-us que jo ab tota la força que m’havets donada vos servesca, orant e tement e amant. E no hajats, Sènyer, en oblit lo vostre servidor qui.s confia en son Déu.” – RAMON LLULL, Livro da contemplação, cap. IV, 30, p. 114.
  • 88. “Eternitat o duració es proprietat per raó de la qual duren bonea, granea, poder e.ls altres comensaments de la substancia.” – Citado em A. BONNER, A., M. I. RIPOLL PERELLÓ, Diccionari de definicions lul.lianes, op. cit., p. 149.
  • 89. RAMON LLULL, Livro da contemplação, cap. VI, 1-8, p. 115-116.
  • 90. “Car vital amor, Sènyer, és mester al vostre serf, per tal que sia tan diligent en servir e en amar vós, que altra amor no pusca caber en ell sinó la vostra.” – RAMON LLULL, Livro da contemplação, cap. VI, 12, p. 116.
  • 91. “Sènyer Déus! Moltes de vegades s’esdevé que los hòmens vils e pobres injuriats entren davant los reis, e los reis, per lur gran humiltat, humilien-se tant a ells, que escolten lurs paraules e exoeixen lurs precs, e fan a aquells fer satisfacció de lurs injúries. E doncs, Sènyer, vós qui sóts Rei dels reis e Senyor dels senyores, humiliàssets vós al vostre serf, si bé s’és hom pobre e mesquí, e plagués-vos que escoltàssets ell, e que.l exoíssets, adoncs com ahora e contempla en vós.” – RAMON LLULL, Livro da contemplação, cap. VI, 17, p. 116.
  • 92. RAMON LLULL, Livro da contemplação, cap. VI, 19-26, p. 117.
  • 93. RAMON LLULL, Livro da contemplação, cap. VII, 7-8, p. 118.
  • 94. RAMON LLULL, Livro da contemplação, cap. VII, 12, p. 118.
  • 95. RAMON LLULL, Livro da contemplação, cap. VII, 14, p. 118. Averróis (1126-1198) foi o principal intérprete de Aristóteles na filosofia muçulmana, e seu pensamento influenciou a filosofia judaica e a cristã. Na segunda metade do século XIII se formou no mundo latino uma orientação filosófica chamada averroísmo latino, que defendeu, entre outras teses, a teoria da dupla verdade (uma correspondente ao dogma e à fé, e a outra ao exercício da razão), a eternidade do mundo, a unidade do entendimento na espécie humana – ou monopsiquismo – e a negação da imortalidade pessoal e do livre-arbítrio, sofrendo por isso a condenação por parte da Igreja. Assim, os averroístas diziam que não se poderia afirmar (entre outras coisas) que o mundo foi criado no tempo, que Deus é Providência, que a alma é imortal, que a produção dos seres provêm de um ato de liberdade e que existe revelação de verdades por parte de Deus. Eles defendiam a eternidade do mundo, o intelecto único comum a todos os homens, o determinismo universal e a negação da liberdade e da Providência. Ver especialmente Rafael RAMÓN GUERRERO, Filosofías árabe y judía, Madrid, Editorial Síntesis, s/d, p. 215-246, e Giovanni REALE e Dario ANTISERI, História da Filosofia I, São Paulo, Edições Paulinas, 1990, p. 536-541. Duas das principais obras de Ramon Llull contra o averroísmo (Do nascimento do menino Jesus e o Livro da Lamentação da Filosofia) estão publicadas em RAIMUNDO LÚLIO, Escritos Antiaverroístas, Porto Alegre, Edipucrs, 2001. Todas as obras lulianas desse período estão publicadas em ROL V-VIII (e a melhor discussão sobre o tema encontra-se no Prefácio da ROL VI)
  • 96. Como por exemplo, VI, 8-9; XXX, 5; CLXXIX; CCXXXI, 22; CCCL, 11.
  • 97. Jean-Claude SCHMITT, “Deus”, Jacques LE GOFF & Jean-Claude SCHMITT (coord.), Dicionário Temático do Ocidente Medieval II, São Paulo/Bauru, EDUSC/Imprensa Oficial do Estado, 2002, p. 301-317.
  • 98. “Oh Senyor tan poderós e tan noble que no fèts gràcia sinó a aquells qui.us volets! Pus que vós sóts poderós, en tots temps, prec-vos, Sènyer, que la contemplació que havets posada en mon cor, que no la’m levets, car si ho faíets, contemplaria ma ànima en les coses vils e fenides, e enllegir-s’hia en aquelles.” – RAMON LLULL, Livro da contemplação, cap. VII, 16, p. 118.
  • 99. “Sènyer Déus, qui exoïts los pecadors en lurs cuites! Per ço car poc temps ha enfre lo començament e la fi de la cosa qui ha començament e fi, no és impossívol cosa a saber la fi de la cosa qui ha començament. Mas si eren tants cors com són grans d’arena ni gotes d’aigua ni àtomus en l”àer, no porien encara entendre fi en la cosa qui no ha començament. E açò, Sènyer, és car tots ells serien compreses enfre començament e fi, en compte; mas no és així de vós, car no sóts comprès per compte, ni per començament, ni fi.” – RAMON LLULL, Livro da contemplação, cap. VII, 23-24, p. 118.
  • 100. Termo utilizado por Lola BADIA e Anthony Bonner em sua obra Ramón Llull: vida, pensamento y obra literária, Barcelona, Quaderns Crema, 1992, p. 81.
  • 101. A respeito da Arte Breve (1308), Alexander Fidora diz: “Tanto la palabra dignitas como el nombre de principia remiten a la tradición aristotélica de los Analítica posteriora, donde se establece que cada ciencia parte de principios per se nota que no pueden ser comprobados, al menos no por la misma ciencia.” – Alexander Fidora, “El Ars brevis de Ramon Llull: hombre de ciencia y ciencia del hombre”, Alexander FIDORA y José G. HIGUERA (eds.), Ramon Llull, caballero de la fé. El arte luliana y su proyección en la Edad Media, Pamplona, Universidad de Navarra, 2001, p. 61-80.
  • 102. “O que hoje chamaríamos de atitude metodológica de leitura era uma abertura de corpo e alma para o estudo, para com o texto, seguindo sempre uma trilogia de receptividade: 1) uma pureza no coração para compreender, 2) uma pureza de intenção para aproveitar o que leu, e 3) uma disposição sincera e firme para obedecer aos preceitos lidos, pois ‘a verdadeira lectio divina não é assunto de inteligência, mas de retidão de coração.’” – Ricardo da COSTA, “O deambulatório dos anjos: o claustro do mosteiro de Sant Cugat del Vallès (Barcelona) e a vida cotidiana monástica expressa em seus capitéis (séculos XII-XIII)”.
  • 103. “Ah Déus, gran sobre tota granea! Ah Déus, fort sobre tota força! Com aquest libre sia departit en tantes raons e en tan estranyes e en tan novelles provacions e en tan necessàries, e com aquest libre sia al món tan necessari per ço car és ocasió a confermació de vera fe e a demostració de veres raons e a multiplicar devoció en vós a amar e a loar e a honrar e a servir e a obeir, e com lo vostre servidor per vostra ajuda e ab vostra gràcia haja acabat e complit aquest libre, per açò, Sènyer, fa a vós gràcies e mercès d’aquest libre. On, per açò besa la terra e leva ses mans e sos ulls al cela b cor humil e devot, e diu: “Glòria e laor e reverència e honor per tots temps sia donada e feta a vós, sènyer Déus, qui havets feta tant de gràcia al vostre sotsmès que ell és vengut a acabament e a fi d’esta obra e art de contemplació. A qual obra e art, Sènyer, és estada al vostre sotsmès obra de molt gran treball e perill sensual e entellectual; car enaixí com lo gran feix casca e destruu a la bèstia son dors, enaixí per la longuea e la subtilitat e les novelles raons e moltes, lo vostre sotsmès ha haüdes moltes de penes e de treballs e de perills, e ha sofertes moltes d’hontes e d’escarns de les gents. On, com açò sia enaixí, e com vós, Sènyer, tant de temps e tan longament m’hajats sostengut e ajudat, e com jo, qui som home mesquí pecador, de pobre poder e saber, me sia en tot confiat e esperat en vós, doncs jo, Sènyer, de totes les mies forces sensuals e entellectuals faç a vós gràcies e mercès donant a vós tota laor e tot honrament de mes forces sensuals e entellectuals, en presència del vostre sant altar gloriós.” – RAMON LLULL, Livro da contemplação, cap. CCCLXVI, IV, 22-23, p. 1256.

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